Publicado por: Marcio | 08/06/2009

Resistindo… ao desenvolvimento

Li em alguns documentos (Indonesia Today, International Crisis Group) que o Timor Leste possui uma sociedade altamente ‘militarizada’. É um conceito duro de entender.

Este documentos se referem à forma como a sociedade timorense se acostumou com uma relação de antagonismo e resistência organizada, quase paramilitar – primeiro contra os colonizadores portugueses, depois contra a ocupação indonésia, aí verdadeiramente militar.

Achei curioso, mas muita gente tem relacionado os problemas entre os esforços de desenvolvimento do Timor com essa mentalidade de ‘resistência contra os opressores’. Nessa lógica, o timorense ficou tão acostumado a resistir contra colonizadores/invasores/estrangeiros, que não consegue cooperar com os ‘novos estrangeiros’, que estão tentando ajudar.

A imagem é de um dia festivo, mas o povo anda assim por aí.

A imagem é de um dia festivo, mas o povo anda assim por aí.

Um exemplo muito estranho que ouvi estes dias: não existem calçadas, então todo mundo anda na rua. Quando vem um carro pela rua, por mais que se buzine e peça licença, os timorenses demoram a dar passagem – quando dão. Muita gente diz que isso vem da época da invasão, quando as pessoas faziam corpo mole nas ruas para impedir que os carros da polícia e do exército indonésios se movessem com agilidade.

De qualquer forma, me ocorre que, no final das contas, as agências internacionais que hoje estão no Timor Leste talvez não sejam tão diferentes assim de um colonizador para o timorense comum. Essa estranheza, essa falta de cooperação frente a qualquer estrangeiro, indica que a comunidade internacional ainda tem que provar ao timorense que está aqui para ajudar. Acho que houve progresso nessa relação, mas ainda há muito o que fazer.

Grupos de Artes Marciais

Um aspecto literalmente militarizado da juventude timorense são os chamados Grupos de Artes Marciais, que na verdade são gangues, aos quais boa parte dos jovens pertence. Metade desses grupos surgiu de movimentos de resistência à invasão. A outra metade foi criada por estímulo do serviço de inteligência da Indonésia, como forma de se contrapor aos outros grupos.

Os indonésios se foram, mas os grupos ficaram. Boa parte deles age como uma rede de ‘proteção’ mútua – se eu tenho um problema, eles vão me ajudar, mas vou ter de ajudá-los quando eles chamarem. É que nem aquele oficial pedindo propina no ‘Tropa de Elite’: “Você tem que me ajudar a te ajudar”.

A visita do Jackie Chan foi estratégica para os grupos de artes marciais. Photo by UNMIT.

O Jackie Chan veio para tentar influenciar os grupos de artes marciais. Photo by UNMIT.

Os grupos de artes marciais têm fortes ligações com o sistema político, e são alguns dos principais agentes da violência em todas as crises dos últimos anos, em geral lutando uns contra os outros. Não me parece haver um problema tão grande (ainda que exista) ligando estas gangues a crime organizado (tráfico, extorsão…), mas a força desses grupos é considerada possivelmente maior do que a da própria PNTL (Polícia Nacional do Timor Leste) – ou seja, em caso de crise, a PNTL pode não conseguir segurar a bronca.

Uma coisa que sustenta estes grupos, até hoje, é a própria pobreza do Timor Leste. Sem emprego ou estudo, as redes de proteção das gangues são um caminho natural para os jovens – ou seja, a mesma coisa que qualquer gangue em qualquer lugar do mundo, que floresce na ausência do Estado.

Essas gangues surgiram de uma forma militarista de organização da sociedade, e hoje estão à beira de se tornarem verdadeiros estados paralelos em conflito com o oficial. Como mudar isso? Não sei se é uma simples questão de dinheiro no bolso e criança na escola, mas sem dúvida que isso é um passo importante.


Respostas

  1. Os caras já não gostam de estrangeiros, e vc ainda me chega com essa cara de japonês imperialista!! 😉

    • Imperialista? Mandão, às vezes, tvz…


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